Um dos textos deste blog se chama "Para Karl Valentim". Já foi escrito há muito tempo, nem me lembro dele (claro que eu poderia ir até lá na gaveta do blog e buscá-lo, mas domingo não é dia de se mexer em gavetas). O que esse texto recebe de comentários é impressionante - apenas todos incompreensíveis, porque spam é algo incompreensível, tanto quanto aquele papel de propaganda que prendem no limpador do para-brisa do automóvel. Será que alguém pensa que de fato vamos comprar alguma coisa anunciada em um papel que se esparrama, se espana molhado, arranhando o para-brisa na hora em que começa a chover e ligamos o limpador, e este e suas borrachas, além de levarem de um lado pro outro o papel que se desfaz em tinta, ficam cantando uma triste canção, borrada, chorosa e irritante? Assim faz o spam, espanando, esparramando bobagem e porcaria na caixa de correio e na gaveta dos outros.
Hoje é domingo, dia de tirar da gaveta e da caixa porcarias e jogá-las fora, no lixo que não se recicla, apenas se renova de bobagens, e sem remexer no que mais estiver lá dentro delas, sem buscar mais nada, deixando lá dentro o que deve haver de bom, uma foto, uma carta, um bilhete, um número de telefone que já não se sabe mais de quem é.
Aqui em Floripa venta cinza, triste e ruidoso, depois de um sábado azul. As temperaturas já são mais amenas e amenas são as canções que tocam agora no rádio. Há um jazz, agora, e há o filme do Woody Allen em cartaz, Meia-noite em Paris, suas viagens geniais, Kathy Bates genial como Gertrude Stein, alguns perdoáveis clichês e estereótipos e a tentativa de explicar a mais inexplicável nostalgia, a de se viver em um tempo que não é o nosso. Há uma melindrosa das mais misteriosas e belas e há um certo sumiço que já valeria o filme. Não sirvo para crítico de cinema, não tenho pretensão maior que não a de ir de vez em quando assistir a um filme. Dessa nostalgia de que fala o filme, não sofro - ao contrário, me lembro de Oscar Niemeyer quando fez 90 anos. Ao ser perguntado pela jornalista algo relacionado à idade e à morte, respondeu: - Ah, ninguém quer deixar o espetáculo.
Nem os caras do spam, Niemeyer. Nem eles. Pena que o vento que sopra hoje seja mais ruidoso que a música suave que tocava há pouco no rádio.
Um comentário:
Mário:adorei o filme, e entendo desses domingos, também, hehehe...ainda mais dos ventosos e cinzas de Floripa! bj
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