7.17.2011

COMENTÁRIOS E WOODY ALLEN

Um dos textos deste blog se chama "Para Karl Valentim". Já foi escrito há muito tempo, nem me lembro dele (claro que eu poderia ir até lá na gaveta do blog e buscá-lo, mas domingo não é dia de se mexer em gavetas). O que esse texto recebe de comentários é impressionante - apenas todos incompreensíveis, porque spam é algo incompreensível, tanto quanto aquele papel de propaganda que prendem no limpador do para-brisa do automóvel. Será que alguém pensa que de fato vamos comprar alguma coisa anunciada em um papel que se esparrama, se espana molhado, arranhando o para-brisa na hora em que começa a chover e ligamos o limpador, e este e suas borrachas, além de levarem de um lado pro outro o papel que se desfaz em tinta, ficam cantando uma triste canção, borrada, chorosa e irritante? Assim faz o spam, espanando, esparramando bobagem e porcaria na caixa de correio e na gaveta dos outros.

Hoje é domingo, dia de tirar da gaveta e da caixa porcarias e jogá-las fora, no lixo que não se recicla, apenas se renova de bobagens, e sem remexer no que mais estiver lá dentro delas, sem buscar mais nada, deixando lá dentro o que deve haver de bom, uma foto, uma carta, um bilhete, um número de telefone que já não se sabe mais de quem é.

Aqui em Floripa venta cinza, triste e ruidoso, depois de um sábado azul. As temperaturas já são mais amenas e amenas são as canções que tocam agora no rádio. Há um jazz, agora, e há o filme do Woody Allen em cartaz, Meia-noite em Paris, suas viagens geniais, Kathy Bates genial como Gertrude Stein, alguns perdoáveis clichês e estereótipos e a tentativa de explicar a mais inexplicável nostalgia, a de se viver em um tempo que não é o nosso. Há uma melindrosa das mais misteriosas e belas e há um certo sumiço que já valeria o filme. Não sirvo para crítico de cinema, não tenho pretensão maior que não a de ir de vez em quando assistir a um filme. Dessa nostalgia de que fala o filme, não sofro - ao contrário, me lembro de Oscar Niemeyer quando fez 90 anos. Ao ser perguntado pela jornalista algo relacionado à idade e à morte, respondeu: - Ah, ninguém quer deixar o espetáculo.

Nem os caras do spam, Niemeyer. Nem eles. Pena que o vento que sopra hoje seja mais ruidoso que a música suave que tocava há pouco no rádio.

Um comentário:

Regina Carvalho disse...

Mário:adorei o filme, e entendo desses domingos, também, hehehe...ainda mais dos ventosos e cinzas de Floripa! bj