2.17.2011

A PABLO NERUDA

“el ingeniero quiere ser poeta,
la mosca estudia para golondrina,
el poeta trata de imitar la mosca”
(Pablo Neruda, em Oda al gato:
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca)

Ontem, no fim da tarde, vi um sujeito andando na calçada, um pouco à minha frente. Seu cabelo era todo branco, vestia uma camisa-pólo verde e uma calça jeans, seus sapatos eram pretos e de cadarço, trazia nos ombros uma bolsa a tiracolo, cansada, de couro marrom, e um assobio. Eu sempre tive muito mais sorte no amor do que no jogo, mas aposto assim mesmo que esse sujeito, se não for engenheiro, é poeta. Se fosse como eu, querendo ser poeta e tratando de imitar a mosca, traria nos ombros um peso que não se descreve, que não precisa de bolsa para se manifestar, que, para ir embora, só precisa de assobio. Pode ser o da andorinha; pode ser o do andarilho.

Um comentário:

Raphael Dimitri disse...

Mário, parabéns por esse belo blog.
identifiquei-me muito com essa postagem. Sou pianista brasileiro, mas moro em Lisboa há quase 4 anos, contra a vontade da minha família. Às vezes penso em sucumbir ao desejo deles e fazer engenharia, como todos os homens da familia. Mas acho que não conseguiria ter uma vida "convencional" rsrs.
Sei já conheço bem o peso de ser artista, e é muito dificil abrir mão dessa dádiva, ou maldição... não sei...

Parabéns mais uma vez!
Abraço do seu mais novo leitor,

Raphael