7.23.2009

UM HOMEM E SEUS CAPÍTULOS

O que há de mais interessante na vida não é a compreensão, mas o seu exato contrário. A esperança persiste porque o contrário não consegue ser tão exato quanto se esperava dele. A célebre foto do menino africano à beira da morte à beira do lixo enquanto um urubu observa a cena, que rendeu um prêmio e um suicídio ao fotógrafo, a tudo resume e explica e confunde. Há quem interprete a cena, se esquecendo de que não é uma cena e sim um fato que já deixou de ser e virou passado. Há quem use a foto, há quem explique a posição de espera do urubu, quem se prenda à engenhoca chamada urubu. Há finalmente quem sofra pelo menino. Entendimento houvesse e conversa não haveria. Engenho seria palavra jamais pronunciada. Arte é que nem o lixo entre o menino e o urubu, se revela no espaço da incompreensão, da multiplicidade de impercepções, do raso ao supostamente profundo, aquilo que poderia ser abrangente e não passa de espaçoso, que se torna sensibilidade porque esta não se manifesta. Quem levanta e anda muito provavelmente está mesmo morto. Vivo é o estático: perplexo, menino, lixo, urubu.

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