7.08.2009

CARAS

Não no referimos à revista, mas aos rostos humanos, vulgarmente chamados de caras. Há matrizes – e isso Darwin, seus seguidores e também seus detratores poderiam afirmar com propriedade; mas, dessa verdade, sejamos apenas passageiros inquilinos.

Um rosto de uma menina atravessando uma rua de Santo Amaro da Imperatriz é o mesmo de uma outra avistada em Florianópolis, em tempo decorrido que não permitiria que ambas fossem uma só e com diferenças o bastante para sabermos que não são gêmeas e sequer foram geradas pelos mesmos pai e mãe. O mesmo ocorrerá com meninos, senhoras, homens e mulheres de meia idade e, pior, de meias puídas ou – mais grave - de meias verdades.

Claro, você já se lembrou dos sósias. Há um maestro em Florianópolis a quem só não chamamos de Getulio Vargas por óbvias razões, sendo a principal o fato de ser ele um maestro, regente de orquestras, pouco afeito a movimentações que não as das cordas e notas musicais, que transmite a meninos e meninas de pais e mães que lhes são próprios, com traços, prognatismos, sorrisos, olhares vesgos, sobrancelhas juntas, olhos separados, queixos, lóbulos e narinas que nos fazem lembrar de pessoas distantes, até de outras gerações, de Darwinianas ou Divinas originais fôrmas (o acento, neste caso, mesmo que abolido ou proscrito, é fundamental).

Agora, sim, falando de uma revista, quem folhear uma Veja de alguns meses atrás encontrará uma reportagem sobre Darwin e suas explicações, até, para o soluço – e como ele e seus estudos encontram até hoje fortes resistências. Diz o artigo que há duas correntes: a que acredita que sejamos todos tailor-made, feitos um a um, sob medida; e a Darwiniana, das tantas transformações e gerações ao passar dos milênios, séculos, dias. Esta segunda, de acordo com o artigo lido às pressas e tardiamente, acreditaria ser tudo obra do acaso.

A questão, de fato, não é como nem quando, e - ousa-se aqui afirmar – nem mesmo quem, mas... Por que?

Por que pertencemos a matrizes e, mais, muito mais, gostamos do cheiro da rosa e desgostamos de outros tantos? Este encantamento pelo mar, o vento, a escalada e a visão da montanha, se tudo isso nos veio atavicamente através de múltiplas transformações e numerosas gerações, muito bem, Darwin; se não foi assim, se de fato somos, cada um, encomenda, feitura, experimento e refeitura de Deus – que diferença isso faz, se o motivo continua escondido por trás de uma nuvem que não se vê?

Pois se soubéssemos o motivo dessa confusão toda, dessa coincidência, dessa falta de acordo e, admitamos, de assunto, ora, sem querer ofender a ninguém, poderíamos louvar a Deus ou ao Santo Acaso, sem culpa nenhuma nem a necessidade de desferir truculentos e orgulhosos socos em nossos próprios peludos ancestrais peitos.

Meninas de Santo Amaro da Imperatriz e Florianópolis, ainda se eu fosse outro Mário, o Quintana - mas não. A verdade é que seus rostos, suas caras, sua matriz amada e desconhecida causaram essa enorme confusão nesta minha cabeça, tão saudosa de cabelos, de poesia, de certezas.

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