“Mas a vida humana é mais complexa: é a busca do prazer, seus temores, e, principalmente, a insatisfação dos intervalos.”
(Clarice Lispector, "Perto do coração selvagem".)
“Senhor juiz... Pare! Agora...”
“Senhor juiz... Pare! Agora...”
(Vanderléia, nos tempos da Jovem Guarda)
Sete e meia da noite. O alarme de um estacionamento dispara. Toca repetidamente seu som insuportável de alarme. Se ladrão houve, já se foi faz tempo.
Sete e quarenta e cinco. Polícia, por favor, pare! Agora. O alarme. Aqui é da Federal, favor ligar para a Civil.
Sete e cinqüenta. Polícia, por favor, pare! Agora. Aqui é da Civil, favor ligar para a Militar.
Sete e cinqüenta e cinco, Aqui é da Militar, senhor, não podemos fazer nada, a não ser uma ronda.
Oito e cinco. Parou o alarme.
Oito e quarenta. Silêncio na casa. Ela chegou e interrompeu.
Dez. O cachorro chegou e fez uma festa danada, pulou no colo e tudo. E voltou para perto dela.
Onze. Um filme na TV, uma entrevista, tudo ao mesmo tempo. A menina com o livro nas mãos diz em voz alta o texto impressionante. Para ela.
Meia-noite é solidão e todo mundo sabe. A tal ponto que gira sozinho em torno do sol que dorme.
Quem quiser que acredite: meia-noite e quinze: o alarme voltou a tocar.
Quem quiser que acredite: no exato instante de nova chamada para a Militar, que promete tomar providências, o alarme volta. A parar.
Se ladrão houve, nos roubou a noite.
Curioso: fechada a janela, abriu-se o amanhã.
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