1.16.2008

AGENDA CARIOCA - UMA ANACRÔNICA

Um camelô vendendo agendas na Rua da Quitanda, Rio de Janeiro, sim, janeiro de 2008. Quem as compraria? Quem precisaria de hora e dia marcados em uma agenda de camelô? Alguém como ele, camelô, certamente que não; seus horários são poucos: o de acordar e o de fugir do rapa. Não difere ele dos outros comerciantes, que não consomem aquilo que vendem. Donos de bares não são bebedores, os de papelaria, se viciados em lapiseiras, a quem as venderia?, um hipocondríaco farmacêutico, ora, falência seria sua morte e não a anorexia. Comprará uma agenda do camelô não alguém igual a ele, mas alguém tão marginal quanto ele, especialmente nos horários, marcados na margem da agenda e não nos impressos – porque, nestes, apenas registrará aquilo que nada descreverá da sua vida: o crediário, o dia do salário, o aniversário, o nome do credor e do devedor, além do próprio, de esperto, de otário. Seu endereço e o tipo sanguíneo que mereceu e merece de nascença constarão, para que, no caso de perda da agenda – sua própria vida –, esta possa lhe ser devolvida; e no da súbita e sempre inesperada fuga daquela que corre debaixo do relógio de pulso - comprado de um camelô – sua própria vida -, para que apareça um outro portador de agenda comprada de um camelô, que se torne, da noite para o dia, da vida, um doador.

Eu comprei uma; você não compraria?

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Mario,

Depois de algumas tentativas no passado, aprendi que, caso comprasse a agenda do camelô, teria que comprar uma outra, pequenina, e olhar todo dia para lembrar de olhar a agenda principal...
Abraço,
Aldo