10.04.2007

CRÔNICA SENTIMENTAL

Na TV
Reportagem
Arquivo N
Pelé.
Copa de 70
Meus pais vivos.
Meu pai assistia comigo Brasil contra Inglaterra
E minha mãe também.
Este o inusitado:
Minha mãe também,
Numa poltrona perto da TV,
Chutando,
Soltando a perna e o pé no tapete da sala,
Querendo acertar o gol que não saía.
Tostão-Pélé-Jairzinho,
Gol do Brasil.
Antes, uma cabeçada do Pelé nas profundezas do Inferno
E Gordon Banks pegou.
Eu tinha 14 para 15 anos.
Meu irmão por perto.
O melhor jogo de futebol a que assisti.
Jamais assistirei a outro tão bom.

Nem minha mãe.

***

Peter O'Toole,
Venus,
A morte chegando,
A delicadeza cúmplice
Do desejo explícito
Impudico
Depravado
Defasado
Anos de diferença
Filme imperdível.

Ela: "Você acredita em alguma coisa?"
Ele: "No prazer.".

***

Pelé a Lucas Mendes
(cheio de cabelos pretos):
No Brasil, o racismo não é racial. É social.
Preto rico entra em qualquer lugar.
Branco pobre não entra em lugar nenhum.
Lucas Mendes: Mohamed Ali,
Há quem cobre de você uma postura equivalente,
Defendendo o negro no Brasil.
Pelé: - Eles devem ter suas razões.
Cassius Clay teve uma infância discriminada,
Preto de um lado, branco de outro.
Eu, não. Vivi minha infância no meio de pretos e brancos.
Minha primeira namorada foi uma japonesa.

Julguem Pelé
Pelos seus atos,
Seu futebol,
Suas palavras.

Julguem Peter O'Toole
Mais ainda, a personagem vivida por ele
Em Venus.

Julguem: sejam juízes.

Sabendo que eles
Continuarão o jogo.

Eles fazem.
Eles são.

O jogo.

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