6.27.2006

INDECISÕES

Sejamos francos: quando era para se aproximar, você se afastou; quando você me pediu socorro, eu não vi. Tive que sair correndo para desfazer a encrenca que acabei criando, por causa da indecisão.

Na hora de resolver e agir, não resolvemos e não agimos – ao contrário, reagimos - e tudo foi mais difícil.

Repare que conversamos a respeito antes, combinamos tudo direitinho, mas, pra valer, não nos entendemos. E olha que nos gostamos e nos respeitamos e somos gostados e respeitados, hein?

A indecisão é que atrapalha. Parece que vai, mas demora a ir. Fica a impressão de que foi bom, pra você e pra mim, inclusive, mas poderia ter sido melhor – aliás, a impressão que fica é que poderia ter sido pior - e que poderá, mesmo, ser pior.

É perigoso. Ninguém gosta de não saber o que fazer no momento da tomada de decisão - e sair fazendo de qualquer jeito é correr um risco muito alto.

O que era para ser prazer vira dor, ou, no mínimo, aborrecimento. Quando acaba, é mais alívio que alegria. Mas pode até dar certo, não é? Vamos continuar tentando. Despediram-se assim, para começar mais um destreino, antes de um novo desjogo, a dizerem, Assim é que o Parreira quer, a nos contar na véspera o que foi que indecidiu.

6.20.2006

A GRAVATA E SEUS ACESSÓRIOS

No princípio era a gravata.

Ginástica & Fisioterapia
Andar depressa depressa depressa
E de-va-gar.

Caixão de defunto.

Tempo para viajar
Tempo
Como se sabe
É dinheiro.

Dois litros de uisque
Um enfarte
Um transplante
Uma dieta
Um spa.

Vinhos.

Livros dos super
Dos que superaram
Dos que saíram vivos sorridentes
Da vida estratégica competitiva
Ricos vencedores
Segundo eles
É preciso comprá-los
Lê-los.

Jesus Cristo era Deus
Agora é psicólogo.

Um charuto
Uma vodka
Uma cerveja
Pelo amor de Deus
Sem mencionar o colarinho.

Buda
Agora executivo
Era Buda.

Um psiquiatra.
(No princípio era a psicoterapeuta.)

O proibido
Para quem o tem como permitido.

O adeus à barriga
Ela volta
Estufada e depressiva
Como é que pode?

Imediatamente faça amor
Diga alguma coisa inteligente
DesconTraia
Se.

HomeoApatia.
FAlopatia.

O psicopata é o piloto que vence
Passando por cima de todo mundo
Palmas para ele
Sorrindo
Aperte o nó
Dentro de você.

E pensar
No princípio
Era só afrouxar o nó.

6.13.2006

EU USO ÓCULOS

Eu uso óculos – já diziam os Paralamas do Sucesso.

Duvido que alguém o diga com orgulho – ou mesmo prazer.

Há quem chame o par de lentes apoiado no nariz de prótese; e não está errado, não.

Óculos pesam. O nariz de quem os usa fica marcado pelas borboletas que servem de contato entre o nariz e eles – os óculos. E se sua namorada usa lentes de contato, termine o namoro - ou nunca vá à piscina, praia nem cinema com ela. Namorar no carro, nem pensar.

Tenha sempre uma pia por perto. Óculos sujam. Flanelinhas só arranham os óculos – e não me refiro aos malas ou pobres diabos ou diabos mesmo que ficam passando pano sujo no carro da gente e a gente ainda paga por isso. Pronto: os desafetos Paralamas e Lobão já podem me processar, por tê-los deixado distantes entre si não mais que uns poucos parágrafos.

Óculos ficam tortos, arranham, empenam. Quebram - quando caem no chão e são pisados por quem os usa e abruptamente acorda depois de dormir assistindo a um chato - de óculos - na TV.

Ninguém fica mais intelectual por causa deles. Fica mais burro, porque, de tempos em tempos, briga com o grau das lentes – e sempre perde, ganhando mais graus.

Óculos sempre deixam quem os usa embaraçado, porque nunca sabe se deve perguntar cadê o MEU ou cadê os MEUS óculos. Esteja certo de duas coisas: eles cismam de desaparecer sempre que você os põe por instantes sobre qualquer prateleira, mesa, pia de banheiro público ou balcão de oficina mecânica; e são dois – no mínimo. São sempre plurais. Mais: eles são muitos e SABEM voar. Pronto: entre os já citados roqueiros, o cearense Ednardo há de apartá-los, me livrando de um processo criminal por abuso de aproximação.

Óculos: ame-os e não os deixe - a não ser que você goste da idéia de entregar seus olhos nas mãos de um sujeito que a vida inteira receitou óculos pra você.

Eu uso óculos. Apenas sem o orgulho característico de quem diz “Sou tijucano, com muito orgulho”.

Aí também seria demais.

6.06.2006

IDÉIAS, MELHOR NÃO TÊ-LAS?

O que não pode é a pessoa ter uma idéia e depois esquecê-la. Daquelas que não é a ficha que cai; quem cai é o próprio orelhão.

Andar com agenda de bolso pode ser uma boa idéia, desde que seja lembrado de que ela – a agenda - está no bolso.

No fim de semana, umas boas idéias passam pela cabeça da pessoa, mas dá uma certa preguiça, logo quando era possível até mesmo começar a por em pé o projeto que se desenhou mentalmente tão perfeito e bem acabado. Amanhã eu desenvolvo isso, tenho boa memória – o pensador de idéias pensa. E aí, quando chega a Segunda-feira, cadê a idéia?

Porque esse negócio de ficar ouvindo discurso cretino e imbecil, assistindo troca de insultos, chorando mais uma morte por tentativa de reação a tentativa de assalto ou de garoto vendendo ou comprando porcaria, entristece e embota o pensamento; é preciso ter idéias.

E namorar é preciso; viver não é preciso. Melhor fará quem tiver idéias no momento em que estiver namorando que instantaneamente as guarde em recanto cerebral reservado para boas e inoportunas idéias – pois não é recomendável pedir um instante, meu bem, vou anotar uma idéia e já volto.

Uma boa idéia pode, até, surgir durante uma boa conversa para, imediatamente, ser anotada na agenda de bolso. Pode-se inclusive ser generoso com o interlocutor e dizer que ele é que deu uma idéia tão boa que você resolveu anotá-la. Na verdade a idéia anotada será a sua, a que você teve, muito melhor que a dele, mas ele não precisa saber disso – a menos que quem esteja nessa conversa com você seja dado a cobrar direitos autorais por qualquer idéia que ele tenha, principalmente as ruins, más, péssimas idéias. Nesse caso, utilize-se do já citado RCRBII - Recanto Cerebral Reservado às Boas Idéias Inoportunas. E fique com a agenda coçando no seu bolso.

Mas, atenção: o RCRBII não abre nos fins de semana.

E que a idéia era boa, era.