12.18.2006

DE VOLTA PRA CASA

De volta ao padrão; à normalidade. Às Terças, um avulso, um texto desconexo do antes e do depois.

Havia uma canção que dizia: Paraíba não é Chicago não. Já uma repórter bem conhecida da TV uma vez disse que Miami parece o Rio, só que no Primeiro Mundo. Se a primeira afirmativa é correta, a segunda parece que não é - e não é mesmo. As praias de Miami começam por uma pista sólida, mal-coberta de areia. Depois, a areia é cheia de cascalho e há tanto cascalho debaixo d’água que é recomendável entrar no mar de sapatas holandesas. As praias do Rio também passaram por aterros, no seu caso, para privilegiar os automóveis, a andar em oitava marcha, característica dos cágados, nas pistas de asfalto duplicadas. No caso de Miami, era tudo pântano; aterro de pântano não pode mesmo dar certo, nem no Primeiro Mundo. Lugar, aliás, onde Miami não fica: seu comércio é legitimamente paraguaio. A repórter só acertou muito indiretamente em aspectos de indiscutível semelhança: o oceano continua sendo, lá e cá, o Atlântico; e a liberdade é atlântica. O comércio é paraguaio, a sandália é havaiana, a Giselle é Büntschen, e os casais se namoram escancaradamente, héteros, homos, bis.

De volta à Pátria, visitei o norte de Goiás rodeado de belgas por todos os lados. A comunicação é mais atlântica que o próprio oceano e nos entendemos em arremedos de Inglês, Francês, Portunhol, fome de comida e de viver, sede de beber o que fosse líquido. Mato pra que te quero, festa pra que te quero, trabalho. O Congo poderia ter sido aqui; e teríamos colonizado a Bélgica.

Deixei de morar com vista para o mar, em Florianópolis. Não ouço mais o vento nordeste implicando com toda razão contra minhas janelas, como não ouço mais os automóveis se espatifando uns contra os outros, na avenida Beira Mar. Minha janela agora é indiscreta e nem precisei quebrar a perna. Minhas mulher e filha foram para o Rio – vou na Sexta que vem, de férias – e o cachorro poodle muito mais delas que meu amigo mudou-se para a casa da nossa empregada de serviços domésticos, de férias – o cachorro, por ora. Grande Bolinha! Bom sujeito, às vezes parecendo Nietzche, mais recentemente grama – segundo sua mais querida, Maria Luiza, depois de uma tosa infeliz. Ela ainda não sabe, mas, na sua colônia de férias, Bolinha foi atacado por um Pit Bull. Patrícia, nossa nobre empregada, contou-me que saiu no jornal a notícia de crianças atacadas por Pit Bulls nas praias catarinenses, no último fim de semana. Bolinha terá que operar o maxilar. Não sei o que foi das crianças, não li o jornal. Impressionante como a técnica do transplante funciona magistralmente: cada vez mais fica provado que transplantar cérebros de Pit Bull para cabeças humanas transforma os possuidores dessas cabeças de cérebros transplantados em Pit Bulls, capazes de adquirir e deixar soltos semelhantes a eles, montados sobre quatro patas. Declarei à nossa empregada, voluntária e provisoriamente tutora do Bolinha, que vou processar o animal responsável pelo animal que agrediu nosso amigo poodle – sem ter a menor idéia de como processar alguém. Muito menos um portador de miolos transplantados de uma raça que se supõe canina.

De volta ao padrão; à normalidade.

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