7.04.2006

UMA DOENÇA INCURÁVEL

Saudosismo é coisa de velho ou de nostálgico prematuro; futebol é coisa de criança. Futebol é uma doença incurável adquirida na infância. Jamais será aceitável acusar um clube de propaganda enganosa se, na sua infância ou adolescência, o clube tenha tido um timaço por um ou dois anos e, depois, desandou a perder e a permanecer na lanterna. Você poderia, neste caso, trocar de clube - alegariam os cartolas por ele (ir-) responsáveis - e sua causa estaria perdida. Fato é que sequer isso passa pela sua cabeça, pois você, eu e qualquer outro brasileiro adquirimos na infância essa doença que se chama futebol.

E a doença, ainda que incurável, raramente mata. Mais que isso, é coberta de razões, nenhuma delas doentia. A razão da sua doença pode ter sido Zico ou Jairzinho, Pelé ou Garrincha, Gerson ou Rivelino, Ademir ou Leônidas, Junior ou Nilton Santos, Falcão ou Sócrates... Pode ser Dunga, pode ser Tostão. Não pode mesmo ter cura uma doença - ainda mais adquirida na infância - com qualquer motivo dessa grandeza.

Mas sua doença infantil e incurável é benigna. Viu, com seus olhos de criança - que são ainda estes mesmos que se escondem meio chorosos sob suas sobrancelhas -, essa gente que causou sua doença incurável vestindo uma camisa e vibrando com ela a cada gol, sem nunca ter beijado o escudo que ela trazia e, no entanto, você sabia que era de verdade aquela emoção. Depois a camisa do seu clube passou a ser a de um clube maior ainda, que encampava o seu, com a camisa pintada de verde e amarelo (às vezes, azul). E você vibrava e se entristecia de verdade com a alegria e a tristeza verdadeiras de reincidentes causadores da sua doença incurável, a cada gol feito ou perdido ou tomado.

Quando o seu clube ou seu clubão verde-amarelo perdia, você ficava de cabeça inchada; recebia umas gozações e, dois dias depois, estava curado da cabeça inchada. Mas nunca da doença benigna e incurável que adquiriu na infância.

Era o que eu tinha a dizer, alusivamente a esta dita seleção de 2006 e seu respectivo técnico. Desta vez, eu faço questão de assinar:

Mario Benevides.

Um comentário:

Anônimo disse...

É Mario,
O pior que agora voltamos para a realidade. Se é que podemos chamar de realidade o que vem por aí.
Será que há algo de errado em não ter um time para votar?
Acho que tive uma infância pobre de política,,,,, não consigo vestir nenhuma camisa...
abraços

André