5.27.2021

PARLAMENTARISMO!

 

Nossa história recente mostra que o Congresso tem legislado ao bel-prazer de quem está na presidência, por meio do vexaminoso toma-lá-dá-cá, e não raro em causa própria. Também tem funcionado bastante para manter ou tirar do cargo quem estiver morando no Alvorada e supostamente trabalhando no Planalto, um dos poucos momentos em que a mobilização popular tem importância. Grande parte da sociedade idealiza um líder capaz de melhorar o país, sendo que melhorar para uns pode piorar para outros, e vivemos em permanente instabilidade, com a sensação de impotência. Neste momento, ainda por cima ameaçados por uma família e seus seguidores de nos tirarem a democracia, de um tranco ou aos poucos, nos jogando de novo na vala das republiquetas de e dos bananas.

Assim tem sido o presidencialismo do Brasil. Vale lembrar que, dos cinco presidentes eleitos pelo voto direto após a ditadura de 1964 a 1985, dois saíram por impeachment, sempre a dividir a sociedade, que de um lado se sente furtada dos seus votos nas urnas, e de outro, incerta quanto ao apoio dado à medida, tanto quanto ao que ela traz de riscos de fragilizar, mais uma vez, a nossa democracia.

Por que não tentarmos o parlamentarismo? Parece incoerência, já que este texto começou por criticar a atuação do Congresso Nacional. Mas a sensação de impotência referida vem da distância entre povo e parlamentares, que aumenta na mesma medida do decurso de tempo entre a eleição e o exercício do mandato de quem se elege.

O parlamentarismo não passou nos plebiscitos de 1963 e 1993 por razões que podem ser atribuídas à conjuntura de cada momento. Na primeira, porque a maioria era contra a evidente manobra para ofuscar o presidente, eleito como vice, que alguns, de posse das armas da República ou de poder e dinheiro, sequer desejavam que tomasse posse, e que depois seria, como foi, derrubado à força. Na segunda, porque após 21 anos de presidentes impostos, era de se esperar que a vontade predominante fosse a de votar para presidente da República, que havia sido frustrada na campanha Diretas Já, de 1983 e 84.

Os dois maiores riscos do parlamentarismo parecem representar prejuízos menores do que os dessa busca incessante por ídolos salvadores da Pátria: o da permanência excessiva de um partido no poder, e o seu oposto: a alternância frequente por causa de instabilidades políticas e econômicas – mas, nos dois casos, sempre exigindo a participação do povo, a custos econômicos, morais e psicológicos muito menores do que os que temos vivenciado ao longo da nossa história.

Como funcionaria? Votaríamos em partidos. A cada quatro anos, o partido mais votado elegeria um primeiro-ministro e os demais ministros, formadores do governo. Em uma crise, a depender da sua intensidade, duas possibilidades: o mesmo partido elegeria um novo ministério; ou novas eleições seriam convocadas.

E quem as convocaria? O chefe de Estado, por real e manifesta vontade do povo. Assim, os três Poderes da República estariam mantidos, e o poder democrático, mais do que nunca seria exercido pelo povo, diretamente e por meio de seus representantes.

Mas, quem seria e quem elegeria o chefe de Estado? A sugestão é que fosse um diplomata de carreira, escolhido pelo voto popular entre três nomes propostos pelo Itamaraty, em anos alternados aos das eleições federais, estaduais e distritais. Com que funções? Somente duas: Ministro das Relações Exteriores; e convocar eleições populares, a cada quatro anos ou quando o povo exigisse.

Para que o parlamentarismo possa ser implantado, antes de tudo uma reforma política, reduzindo o número de partidos, com nomes que necessariamente correspondam ao que de fato tenham como propósito.

Mais adiante, vamos abordar como poderia ser uma reforma política que proporcionasse ao eleitorado maior clareza das propostas de cada partido e como o parlamentarismo tem funcionado em alguns países que o adotam.

Que tal pensar sobre isso?

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