9.22.2018

UMA CARTA, NADA MAIS QUE UMA CARTA

Caro amigo. Sonhei que viajávamos de trem para Berlim. Nunca viajamos juntos de trem, muito menos para Berlim. Semana passada, eu e Rosa estivemos na Itália. Fomos e voltamos de avião, e lá andamos a pé, de barco e de carro. Creio que o sonho foi influência de filmes que tenho visto, filmes europeus, desses em que todo mundo anda de trem. Era fácil nos vermos quando morávamos perto, mas, primeiro, você e sua amada se mudaram para Minas; depois, eu minhas duas amadas para o Sul. Muito cedo, você partiu, e entre um momento e outro nos falamos pouco. Você e outros amigos sabem, não sou muito de falar por telefone. Pois hoje tenho saudades de você e do telefone. Agora, tudo flui pelas redes, gravado ou digitado. Outro fenômeno contemporâneo é que todos somos donos da verdade, todos temos razão. Contraditório e ampla defesa são termos restritos ao STF, onde trabalham nossos pop-stars. Surpreso, você? Guitarras e violões deram lugar a togas. No sonho, depois de saltar, como sempre e felizmente, no lugar errado, eu vi por trás de uma divisória uma parede de azulejos nada alemães. Era um bar, e lá (e já) você estava. Sem me queixar e nenhuma pressa de partir, fico por aqui, mais que nunca admirando os doidos que falam sozinhos como eu, com a diferença de que de fato veem alguém ao lado deles. Ter você ao meu lado outra vez, em um trem para Berlim que parou na estação onde o bar é português e fica no Rio, já não tenho mais inveja dos loucos, mais perto fico deles, sem verdade, sem razão.

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