10.11.2014

DIMINUIR AS DESIGUALDADES


À exceção de quem quer ficar em cima de um trono, carregado e adorado por uma multidão faminta, diminuir as desigualdades sociais é um desejo coletivo. É bom para o capitalismo como igualmente bom para o socialismo e também para o comunismo. Mais mercados para o capitalismo, mais serviços para o socialismo e mais trabalho para a ditadura do proletariado; menores discursos e raras interrupções da nossa programação normal. Desde que estejam na pauta, e que a pauta seja de muitos e para muitos, mais segurança, mais educação, mais saúde. Maior a sensação de plenitude tanto para religiosos quanto para céticos; e raros, curtos sermões (talvez, quem dera, sem decapitações).

Condição necessária para a distribuição de renda é a própria: a renda. Não há como se distribuir o que não há. Mas não suficiente: basta lembrar de quem deseja ser adorado em cima do trono. O capitalismo é capaz de distribuir renda, como o socialismo de estimular mercados. Para os dois, a condição que falta à suficiência da primeira – a renda - é a mesma: descer do trono. Já para o comunismo, é possível distribuir tudo o que existir enquanto existir.

Voltando à nossa programação normal, pensemos no que tem acontecido na história recente do Brasil. DE FHC a Dilma, viramos da centro-direita para a centro-esquerda. Mais liberalismo econômico no período de FHC até meados do segundo de Lula e, de lá para cá, mais centralização, intervenção e interferência. Maior arroxo quando era preciso atrair investimentos e destronar a inflação; mais recursos quando estes eram mais fartos, mantidos os fundamentos do crescimento sustentado e, com isso, crescimento e inflação com fome e sem trono. Quando este – o trono - retornou à cena...

Será o tesouro nacional infinito? Será propriedade de alguém, que não da população nacional? Será que não estamos perdendo tempo com umbigos alheios e rivalidades alheias? Afinal, o que de fato nos interessa? Melhor distribuição de algo que exista ou desvio de algo que é finito? Melhor investimento do que é finito para que se multiplique e possa ser mais bem distribuído, ou desrespeito ao capital que produz e multiplica? Melhor gestão do que há de mais parecido com o socialismo – o social -, ou a pauta de uma só para cada vez menos – menos escolas, menos segurança, menos hospitais, menos qualificação?

É indispensável sonhar, acreditar e exigir, mas é preciso, lamentavelmente preciso ser adulto.

Não estamos discutindo esquerda ou direita. Estamos discutindo centro-razoável-competência contra centro-indecente-irresponsabilidade.

Entre a porca corrupção pontual e a grotesca corrupção sistêmica, sim, queremos as duas atrás das grades. Mas é preciso, lamentavelmente preciso distinguir uma da outra.

É preciso, lamentavelmente preciso ser adulto. E decidir.

 

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