11.07.2013

E AÍ ELA CHOROU

Rosa organizou um seminário para alunos da Odontologia da UFSC. Fui convidado para ser o primeiro palestrante. Dei o título à minha palestra de “Mercado de Trabalho - Anseios, Expectativas e Realidade”. Especialistas em Marketing e Psicologia, entre outras áreas, farão outras palestras hoje e amanhã. A proposta do seminário partiu da Rosa; surgiu de um pedido de ajuda de uma aluna, que comentou que havia alunos receosos do que vão encontrar pela frente em suas carreiras, incluindo casos de depressão. O auditório deve ter uns 80 lugares e estava lotado, principalmente por jovens estudantes, além de alguns outros professores mais ou menos da minha geração. Juntei na minha memória tudo o que consegui sobre as mudanças no Brasil e no mundo desde o tempo dos Beatles até hoje e os impactos disso nas vidas, profissões e mercados de trabalho; perguntei a eles se o país e o mundo haviam melhorado, piorado ou permanecido a mesma coisa, até tratar do tema propriamente dito, fazendo idas e vindas, provocações, sugestões e constatações – por exemplo, a de que o país hoje vive uma democracia e tem uma moeda com nome e valor conhecidos; que a odontologia, especialmente no Brasil, teve progressos extraordinários; que o mundo é mais perto do que já foi e o interior do Brasil permanece pedindo para ser desbravado e desenvolvido; do surgimento nos anos setenta e oitenta do século passado do conceito do desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade, que considero um marco na história, por trazer a constatação de que, sim, somos bichos que pensamos em desenvolvimento econômico, mas que podemos fazê-lo sem culpa, desde que pensando também nas futuras gerações, tratando os outros com respeito, pensando nos benefícios da inclusão social e na necessidade de conservar os recursos naturais. Mencionei o óbvio: as escolhas são sempre difíceis, mas são escolhas, próprias; e que cada pessoa é uma entre sete bilhões de uma espécie entre outras sete bilhões de espécies - e que cada um de nós é único, não há ninguém igual a ninguém; não há réplicas nem das nossas impressões digitais nem das que temos do mundo e do universo. Também falei da dificuldade do que parece fácil e não é: o autoconhecimento, lembrando a célebre frase inscrita em uma pirâmide egípcia: Conhece-te a ti mesmo. Comentei que não conhecia o Egito e que, infelizmente, neste momento, não tenho muita vontade de fazer turismo por lá.

Terminada a palestra, uma moça linda, muito loura e de olhos muito azuis, veio a mim e me perguntou se de fato eu tinha dito que não tinha vontade de fazer turismo no Egito. Eu disse que sim, por medo da guerra. “Pois eu passei dois meses lá e a realidade é outra, diferente do que a mídia mostra, eles são um povo extraordinário, eu deixava minha bolsa largada em qualquer e canto e ninguém mexia, e se as pessoas continuarem a ter esse preconceito, a situação deles só vai piorar, eles precisam de turistas para que possam sair da crise em que estão.” Eu pedi desculpas e agradeci a ela ter-me dito isso, e que ela deveria dizer isso à plateia, logo antes da próxima palestra. Ela me disse que tinha vergonha; eu propus que a Rosa dissesse, então, incluindo meu agradecimento por ela me ter aberto os olhos e destruído mais um medo e um preconceito dentro de mim. “O senhor falou na possibilidade de se ir para o interior se essa for nossa escolha, e eu quero ir para a Índia, e as pessoas me perguntam por que, e eu digo que lá eu vou ter mais chances de ajudar as pessoas do que se eu for para os Estados Unidos.”

E aí ela chorou. Seus lindos olhos azuis se encheram de lágrimas. Eu dei uma beijo em sua testa e disse, Daqui a pouco, serão dois chorando. É o que faço, agora.

Obrigado, Professor Ricardo, Professora Joeci, Rosa, minha mulher. Muito especialmente, obrigado a você, linda lourinha chamada Mariane, seus lindos olhos azuis cheios de vida, ideal e lágrimas que, sem querer e tão tolamente, causei.

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