7.14.2013

O TÍTULO

Meu primeiro grande título, como o de muitos brasileiros, não foi da seleção nem do time de coração na infância, ainda que estes tenham acontecido primeiro. Escolher entre MDB e ARENA, sim, foi modesta, tolhida e ao mesmo tempo imensa conquista para mim e outros da minha geração. Nosso primeiro grande título foi o de eleitor.
Partidários defendem seus partidos e há os que prefiram ideologias, como a do Estado perfeito ou a do Mercado perfeito. Alguns querem a volta dos militares ao Poder, outros, que o protesto se torne regra, palavra de ordem, aclamação. Modesto ou pretensioso, o eleitor prefere escolher; votar; e poder defender seus direitos.
Também não foi no Fantástico que conheci a professora chegando na escola improvisada montada no lombo de um burro, mas pessoalmente, por força da profissão de engenheiro. Posso dizer sem orgulho e muito menos preconceito que conheço bem muitas das cidades do interior do Brasil, como quase todas as capitais dos seus estados. É um erro pensar que alguém sem instrução e com poucos recursos vote mal, da mesma proporção que acreditar que quem sabe votar é o instruído e com recursos, desta ou daquela cidade ou região. Pelé não estava totalmente errado quando disse (em péssima hora, não se discute) que o brasileiro não sabe votar. Ninguém sabe votar e, por isso e em aparente paradoxo, existe a democracia. Se não se sabe a verdade, que seja feita a vontade: a da maioria e não a de uma classe, região ou de um só.
Tanto há políticos quanto ditadores que se mostram (sabendo que não são) donos da verdade. Há quem acredite que eles sejam e goste de repetir o que eles dizem, por paixão ou preguiça de pensar. Tomemos o passado recente como exemplo. Partidários de Lula afirmam que FHC destruiu estatais para depois vendê-las, quando o que de fato ocorreu é que o Estado empreendedor tinha virado propriedade de uns poucos e o dinheiro do Estado empreendedor havia acabado antes do seu governo - e não restava alternativa ao País, que não a de convidar a iniciativa privada para investir. FHC, que nos deixou de herança a maldição da reeleição, tampouco propriamente deu dinheiro do Estado aos bancos, mas sim a quem tinha contas nos bancos – claro que, direta e necessariamente, favorecendo também aos banqueiros, mas, se assim não fosse, o que nos restaria? Um curralito? Esses que jogam pedra no FHC costumam endeusar Lula, esquecendo ou negando coisas que são inesquecíveis e inegáveis do governo dele. Os do lado oposto esquecem que o governo Lula manteve a fórmula aprendida por FHC depois de gravíssima crise de escalar um banqueiro à frente do Banco Central (dando a este independência), a economia (na maior parte do tempo) regulada pela razoabilidade e - sim, por um cenário favorável (na maior parte do tempo) na economia mundial, mas também por inegável competência de equipe –, o País com bons níveis de credibilidade, crescimento e baixa inflação.
E porque isso não acontece agora? Porque agora, no governo, temos alguém que não só se mostra como acredita que é dona da verdade; que pensa que entende melhor do que ninguém de economia e Banco Central. E até de medicina.
Mas não só. Todos, partidários, ideólogos ou eleitores, de esquerda, direita ou centro, caímos na desgraça do poder pelo poder. Do continuísmo. Da falta de alternância. Do desaparecimento da oposição. Em uma palavra, fisiologismo.
Sem abrir parênteses, me parece pertinente lembrar que esquerda não é monopólio do marxismo – a expressão é anterior a Marx e suas teorias, como (e mais ainda) anterior a Lênin, Trotsky, Stalin, Fidel, etc. –, como direita não é monopólio de Hitler, Mussolini e tantos outros ditadores do século passado (que bom lembrar que isso é coisa antiga, de outro século!). Tampouco centro é ficar em cima do muro. Centro é ser eleitor, o que de trás pra frente não é verdadeiro, porque esquerda e direita – evidentemente - são muito, mas muito majoritariamente feitas de eleitores. Estes, sejam de esquerda, centro ou direita, na hora de votar vão pensar em seus interesses – o que é lícito – e nos do País – o que é muito maior que qualquer ideologia: é ideal.
Ideal talvez agora fossem novos comandos no Senado, na Fazenda e no Banco Central; que na economia fossem tomadas medidas supostamente impopulares, mas capazes de recuperar a credibilidade do País e este voltar a atrair e fazer investimentos, para o que também contribuiria uma drástica e racional redução da fisiológica e perniciosa quantidade de ministérios; que médicos e estudantes de medicina fossem consultados sobre as condições em que trabalham e fazem suas residências e não obrigados a engolir o que um governo pensa; e que o ministro da educação pudesse arregaçar as mangas e se dedicar de corpo, alma e ouvidos à sua pasta e não ficar pousando de porta-voz de plantão, explicando o inexplicável.
Ideal será que a Presidente perceba que não é (e ninguém mais acredita que seja) dona da verdade; e que sua base fisiológica seja capaz de pensar pelo menos em seu próprio interesse de ter a política como profissão, para que não caia em trágico e unânime descrédito.
Ideal será que o mandato da Presidente termine bem. Se assim não for, com o País em situação ruim, não será de reeleição ou de alternância que falaremos. Com ou sem título, apenas e tão somente trataremos do fracasso dos interesses e ideais da maioria.
Do nosso fracasso.

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