7.07.2012

HÉLIO DE LA PEÑA, OS DEZESSETE DA KOMBI E OS DEZOITO DO FORTE


Sábado ventoso em Florianópolis, minha mulher, gripada, enquanto nossa filha ainda está a caminho, de férias, voltando da serra gaúcha, e de ônibus, pedimos um peixe para almoçar em casa. Para acompanhar, ela, um tinto, eu, um Chardonnay, que se encontravam entocados e intocados na adega do apartamento, verdadeira personagem de novela moderna: artificial e sincera. A rádio FM tocava boas músicas, até que, às tantas, um David Byrne que, com minhas indevidas desculpas a ele e ao Caetano Veloso, ultimamente não me tem agradado. Por isso, depois do almoço, a TV. Eis que Angélica entrevista o Casseta Hélio de La Peña, vestido com a camisa do Botafogo. Nada contra qualquer outro sotaque - pelo contrário, sou viciado neles –, mas o carioca me inebria, muito mais que um tango, que um Malbec ou um Chardonnay. Nada contra qualquer time, a não ser o Boca Juniors, esse antijogo da modernidade - mas o Botafogo, na i-ne-nar-rá-vel narrativa do locutor Casseta, é o de 1967 e 68, o de 1989, o de 1995 e o de 2010; é o de um barão holandês, que, como o Bafo da Onça, acabou de chegar, cujo nome não sei - mas sei que é casado com uma brasileira e que seus antepassados vieram a nado da África para que ele nascesse na Guiana; é o de uma van, com samba da Beth Carvalho e hino alvinegro primeiro e único cantado pelo Zeca Pacodinho, em companhia de Edson Celulari, Marisa Monte, Ed Mota e mais alguns outros notáveis botafoguenses, que se perguntam: - Mas não éramos dezoito? De pronto, um deles esclarece: - Não, os dezoito eram os do Forte.
Pois é de longe que grito e tento por eles ser notado:
- Jesus Cristo, estou aqui! Somos, sim, dezoito! E atenção! Loco Abreu a vista! O branco-e-preto é outro, mas, nos pênaltis, em se cavando, tudo dá!
E assim me despeço: vou à livraria procurar o livro do Hélio de La Peña, que conta o Botafogo para crianças. Ele está certo: o Botafogo sempre será para crianças.

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