1.11.2011

DIAGONAIS E PARALELAS

Passamos a primeira parte das férias de verão no Rio e a segunda já vamos ficando por aqui, em Florianópolis. Tem sido assim já há vários anos. A exceção foi ano passado, quando fomos à Europa com meu irmão (nos últimos anos, portanto, as nossas primeiras férias de inverno). E é na casa dele que ficamos no Rio. É sempre bom. Por exemplo, a maior parte do tempo andamos a pé, por Copacabana e Ipanema. Tudo demora demais, menos as férias: agora, o Rio está mais calmo. Nascemos lá, não vivemos diretamente nenhum trauma de violência, o Rio para nós é especialíssimo e assim sempre será. Viemos para Florianópolis por uma questão de carreira profissional minha; Florianópolis veio de brinde. Experimentamos, lá e cá, a mesma língua e o mesmo oceano, com poucas diferenças (como disse Guimarães Rosa, viver é muito perigoso, e, lá como cá, nenhum trauma direto de violência: muita sorte). Por exemplo, no Rio, caímos no mar; aqui, mergulhamos. Lá, o mar vem em ondas diagonais. Em Ipanema, caímos no Arpoador e saímos no Jardim de Alá. Entramos no mar por debaixo de cada uma das ondas e vamos entrando e entrando debaixo das ondas e acompanhando a correnteza, até sair onde der, onde for possível, felizes e saudáveis, mergulhadores, nadadores e vencedores. Se alguém é hóspede do Fasano, que fica no Arpoador, vai se apresentar no Ceasar Park, quase no Jardim de Alá, e será muito bem aceito, convidado inclusive a experimentar o teorema de Pitágoras e voltar pelo cateto de areia, que ampara as ondas diagonais da hipotenusa aquática e salgada, até chegar no seu front-desk certeiro, hospedeiro e caro. Aqui, Florianópolis, Jurerê, praticamente não temos ondas: nadamos eternamente e paralelamente à praia, até sairmos onde der, até nos vermos perdidos e disfarçando que não. Como se estivéssemos em Ipanema. Aqui como lá, sairemos andando pela areia fingindo que sabemos onde estamos ancorados - onde fica, no Rio, nossa barraca; em Florianópolis, nosso guarda-sol. Jamais saberemos, e sempre chegará uma alma salvadora a nos dizer, esqueceu? Estamos em frente ao posto salva-vidas, ora! Qual deles é que ninguém nunca nos informa, ninguém nos pendura uma placa no peito a dizer, eis aqui um ser de férias a se perguntar, Por que as férias são tão curtas e as soluções demoram tanto, tanto que levam anos, que levam tiros, que levam vidas? Uma argentina perguntou faz pouco, La sombrita, quanto custa? Cinco reales, respondeu o barraqueiro, senhor dos guarda-sóis, certeiro, hospedeiro e caro.

Em 2011, para todos nós, muita sorte.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom viajar com vc nas páginas deste maravilhoso blog e passear pelo Rio de Janeiro. Saudades da maravilhosa natureza, da descontração e hospitalidade de de seu povo e transportá-los para cá, nossa pequena ilha tão bela e receptiva quanto sua natureza.
Floripa se orgulha de receber pessoas como você!!!
Grande abraço!

Martina Knoll disse...

Parabéns pelo Blog!!!ABRAÇOS!
Martina Knoll