9.05.2006

O BRASIL E O UNIVERSO EM EXPANSÃO

UAI nem sempre é interjeição mineira, como não se pode acusá-la de inconfidência, pelo menos sem provas. Mas, se nem interjeição nem inconfidência, insurreição, sim: a UAI - União Astronômica Internacional – rebaixou Plutão a planeta anão. Mas será possível arbitrária e autoritariamente uma UAI qualquer retirar um planeta de sua órbita, reduzindo-o a uma sub-órbita – assim, de um ano-luz para o outro? Isso já causa revoltosos protestos de apaixonados e estudiosos astrônomos - sem que, no entanto, sejam esperados enforcamentos seguidos de esquartejamentos por conta disso. Disso que, diga-se, nem é novidade mais.

Da mesma forma, faz tempo que se comenta, em centros de pesquisa e botequins, que o universo vive em expansão. Se o big-bang foi ou não seu começo, aí o buraco, além de negro, é muito mais profundo; cientistas e curiosos embriagados ainda não conseguiram chegar a um consenso. Mas todos garantem: que o bang foi big, ah, isso foi – e, vá lá, reduzam Plutão a plutinho – mas que ninguém se meta a falar em fim do universo.

O universo vai-se expandindo espaço infinito afora, só pra ver quem é mais infinito no fim das contas: ele, universo infinito, ou o próprio infinito. E o fim das contas não existe, qualquer endividado sabe disso muito bem.

O que talvez também não seja novidade é que o Brasil segue a mesma trajetória da cósmica expansão.

Professores são seres capazes de transmitir conhecimento e provocar reflexões e modificações. Por isso, no Brasil, são tão desprezados e mal pagos. Formam então os professores uma galáxia à parte, que sai a protestar nas ruas contra a degradação da sua profissão, o tanto que deles já tiraram, a destruição da escola e do acervo científico-educacional-cultural público, assim por diante. Pelas demais organizações sociais brasileiras – ou galáxias -, são vistos como vagabundos que reclamam de barriga cheia, alimentada pelo povo.

E povo é outra galáxia, totalmente desconhecida pelas demais.

Estudantes, que fazem parte da mesma galáxia dos professores, deles se afastam.

Elites sócio-econômicas se queixam da carga tributária, dos juros altos, dos gastos públicos e, ainda que empreguem parte – planetas, anões ou não – da galáxia denominada Povo, e que parte dessa parte venha das escolas e universidades - que compartilham da órbita dos Professores -, a galáxia Elites se afasta das demais.

Políticos – ah, os políticos! - sabem de tudo, tudo propõem, prometem muito mais. Ouvem pouco. Muitos deles, percebendo espaços que se agigantam na camada de Ozônio, é na luz crepuscular que bem se adaptam à inescrupulosa. Rapidamente se libertam da gravidade e de todas as demais leis. Têm na galáxia Povo seu alvo predileto: eis a inspiração de Guerra nas Estrelas.

O Governo, ainda que majoritariamente orbitado por políticos, é uma outra galáxia. Aumenta impostos e diminui custos, sim senhor – senão, os professores não estariam reclamando.

Galáxias como a dos traficantes vão-se expandindo à velocidade da luz, na razão direta das massas e na inversa do quadrado da razão.

No lugar da razão, galáxias distintas, estranhas, planetas a desaparecer da órbita, a se violentar e a se perder no éter, a se plutanizar – expressão que, ninguém duvide, brevemente será cunhada – e não parente, do desprezado e simultaneamente temido, porque desconhecido, vernáculo.

A razão provavelmente preferiria professores bem preparados e pagos, universidades aparelhadas, concorrência saudável entre escolas públicas e privadas, empresas públicas e privadas eficientes e competitivas oferecendo o melhor, de empregos a produtos, comungando com cidadãos de emprego e vida dignos o pagamento dos impostos necessários e suficientes para o Estado-servidor.

Quereria presumivelmente a razão cidades menos tensas, com melhor distribuição de renda e demografia, transporte público de qualidade, paisagem em harmonia com a população, progresso social e desenvolvimento no ritmo que lhes fosse adequado, a elas e eles, cidades e cidadãos. Seu contrário são as mega-cidades, com sua mega-miséria, mega-violência, mega-engarrafamentos, mega-corrupção, mega-demagogia, mega-poluição...

Mas, que mega, hein?

Dizem que é assim por culpa da história, dos Estados Unidos e dos portugueses; por culpa do povo, do governo, das elites; a culpa é do clima, a culpa...

O Brasil se expande para fora de si, por meio de suas distintas galáxias distantes umas das outras, afastando-se, indo-se, cada qual por si.

Ao contrário do universo, o começo do Brasil é conhecido.

Bem como seu fim, tudo indica, o será em breve.

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