Como todo mundo dá palpite sobre
esse tema, eu também vou dar o meu. A dicotomia Esquerda e Direita com
significado político surgiu na época da Revolução Francesa. No Parlamento
Francês, à esquerda ficavam os jacobinos, contrários à monarquia e seus
privilégios; à direita, os girondinos, afeiçoados à nobreza, logo, conservadores.
Deste lado o conservadorismo “de direita” e do outro liberdade, igualdade,
fraternidade “de esquerda” – como visto, meras alusões às posições respectivas na Assembleia Nacional da França do século XVIII. Cerca de 80 anos depois, Marx desenvolveu suas teses contra o
capitalismo, e capital é algo que os que o têm no mínimo não o querem perder, logo, são conservadores. Dois passos atrás, a Revolução Gloriosa transferiu poderes da
monarquia para o Parlamento Inglês, e neste caso saiu vitorioso o liberalismo,
que ninguém à época poderia classificar de esquerda ou direita, pois a
Revolução Gloriosa na Inglaterra precedeu em 100 anos a Francesa. Como o liberalismo se baseia
na ação individual e o comunismo e o socialismo na coletiva, estes se
consolidaram como representativos da esquerda, e o liberalismo foi para o lado
da direita. Chegamos ao século XX. Gramsci, marxista, é preso pelo fascismo,
até morrer. Preso também foi Norberto Bobbio, então simpatizante do marxismo,
que escapou com vida por se ter desculpado perante o fascismo. Vários outros
episódios ficaram na História a não deixar dúvidas de que o fascismo se
contrapôs ao comunismo - e se este está à esquerda, o fascismo está à direita,
e direita nacionalista, com grande peso estatal em tudo: nos negócios, no
direito, nos costumes. Nem por isso se torna de esquerda, pois que combate o
comunismo, sendo que este, naqueles tempos, praticamente eliminava a iniciativa
privada, de novo contrapondo-se ao liberalismo e ao capitalismo – este, no caso
do fascismo, fortemente estatal. Com o nazismo não foi diferente, acrescentando
porém o arianismo, a ideia da supremacia branca alemã. Assim, não me parece
difícil percebermos que: (1) nazismo e fascismo foram e são “de direita”; (2) estão
mais à direita do que o liberalismo está em relação ao comunismo, e por isso, nazistas
e fascistas usualmente se autoproclamam de ultradireita (o atual presidente do
Brasil assim se referiu a si e ao seu (ex) partido PSL ao a ele se filiar); (3) como
o conceito político de “esquerda” surgiu antes do comunismo, este não pode ser
considerado como a única forma de “esquerda”; daí uma das razões de o comunismo
totalitário ser considerado de ultraesquerda. Mas, alguém poderia perguntar,
não existe vida entre essas posturas e definições? Algo que se possa chamar “Centro”?
Voltemos a Norberto Bobbio, que em seus últimos anos se disse a favor do
socialismo liberal, como consta da página web do seu contemporâneo, nosso
Miguel Reale – que em contraponto disse preferir o liberalismo social, enfatizando
porém que seria o Centro o único capaz de apaziguar as disputas ideológicas. Mas
no Brasil tudo é diferente. Quem se autoproclama ultradireita defende o
liberalismo; o Centro vira “centrão”; uma dada, suposta religião invade o poder,
em um país laico; e quem disse o exato oposto ao que dizem historiadores,
pesquisadores, testemunhas, e, como eu, amadores, não só foi aprovado pelo Itamarati
como ocupa o cargo de chanceler. Poeta Carlos, você foi ser gauche na vida. E nós,
poeta? O que seremos e o que será de nós?
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