Uma vez preparei um trabalho a
pedido de um executivo sobre a resiliência do Brasil. É o que somos: um povo
resiliente, que entorta, mas não quebra, e se reconstitui. Somos quase que um elástico, que se esgarça, mas não rasga. Vivemos em montanha russa, com
períodos de prosperidade que até aparenta ser geral, com outros de recessão,
depressão, até nova reação. A dependência de comodities é muito grande, ao
contrário do investimento em tecnologia própria, ciência, cultura, pesquisa,
desenvolvimento e inovação. Em vez de escolas em tempo integral, proporcionando
a quem vive no inferno um pouco daquilo que os mais abastados têm, afastando
aqueles das drogas e das armas e preparando-os para pôr o país onde poderia
estar há muito – no pódio do cenário mundial -, aqui se prefere matar e matar e
matar. Que nem barata. (Aliás, é de se perguntar ao autor da expressão se seus
vizinhos mais ilustres também serão mortos que nem barata.) No lugar de
programas estruturantes, abrangentes e continuados - estatais e privados -, para desenvolvimento e capacitação profissional,
prefere-se apostar na gangorra dólar sobe, bolsa cai e vice-versa, e criar,
comprar e vender estatais, não sem antes depreciá-las, com duplo sentido. A depender do ciclo, o Estado
injeta dinheiro público para aquecer a economia, não sem alguma dose de
inconsequência, ou enxuga tudo, aperta tudo, sufoca a quase todos,
respectiva e enganosamente como se inspirados em Keynes ou Friedman e seus antecessores.
(Segundo par de parênteses: quem pensa que Marx passou por aqui nos últimos
anos deveria ler um pouquinho mais, para não dar a impressão de que seus ancestrais
tenham sido pássaros de plumagem verde ou azul e vermelha.) Não sem inovar: os 500
reais do FGTS vão salvar o país, já que milhões de nós (que representam metade
da população) vivem com 413 reais por mês. Por favor não me pergunte como:
felizmente ainda não sei. Em vez de nos vermos como parte de um povo, somos o
país do quero o meu, o resto que se dane. E assim permanecemos: resilientes,
alçando voos para depois arremeter. Pena que nossos voos vão sendo cada vez
mais curtos e as arremetidas cada vez mais bruscas. mariobenevides.blogspot.com
(um resiliente).
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