Caro Lula:
Sou um desses idiotas que mais
que respeitam que desrespeitam. A maioria é assim, porque ainda não percebeu
que o bom mesmo é não respeitar. Nem a si mesmo. Respeito, mais que é bom e eu
gosto, é uma das poucas atitudes que se pode tomar unilateralmente: “Vou respeitar
mesmo sendo desrespeitado.” Coisa de idiota.
Há quem se sinta idiota por ter
um dia votado em você, pensando que votava contra o Collor, o Sarney e o Maluf.
Você, não: você sabia muito bem que o Centrão – espécie ou o mesmo PMDBão de
hoje – garantiu cinco anos ao Sarney quando este distribuiu aos amigos estações
de rádio por todo Norte e Nordeste, provavelmente também pelas outras regiões
do País. Sabia como sabe que rádio chega aonde a TV não chega, a High Lux não
chega, nem o satélite chega. Que pelo rádio se pode inundar de esperança a alma
dos que só vivem dela. Que as estações distribuídas pelo Sarney garantiriam a
ele e a quem estivesse com ele o Poder Eterno - especialmente nos lugares em
que o prefeito emprega todo mundo na prefeitura.
Há quem viva de ilusão e há quem viva
de alusão. Você trouxe o Collor para o seu lado e, tão logo a candidatura do Eduardo
foi lançada, aludiu ao seu atual aliado, ele mesmo, o mesmo Collor: “Esse
negócio de eleger quem ninguém conhece já não deu certo uma vez”. E como deu
certo pedir voto ao Maluf, Lula! Parabéns!
Já para a TV portuguesa, você disse
que o julgamento do mensalão foi 80% político e só 20% jurídico. Você, que um
dia disse ao Pedro Bial que o PT precisava pagar pelo que fez e que depois
disse que o mensalão não passava de uma farsa. Que no mesmo programa – o Fantástico
- tornou ainda mais célebre a frase de que é melhor ensinar a pescar do que dar
o peixe. Ora, na origem, você já sabia que isso não passava de uma frase. Ou de
uma farsa. À TV portuguesa você disse também que os presos na Papuda não eram
da sua confiança - e já tem na ponta da língua a resposta: eles eram, mas
deixaram de ser, por causa do mensalão. Se este foi uma farsa, se será um dia
recontado, se o julgamento foi mais político que jurídico, - quem, afinal,
assiste à TV portuguesa? E quem ouve o que você e os amigos do Sarney dizem ou
dirão pelo rádio?
O problema da dobradinha – você de
vice e Dilma de Rousseff – é que os mesmos amigos do Sarney não vão gostar, e
esse negócio de ir mesmo sem base, você sabe muito bem, não dá. Ir no lugar
dela trará a você a obrigação de desfazer o que ela fez, de admitir que o
Tesouro Nacional não pertence ao Governo, é finito e não deve ser objeto de
piratas - nem mesmo dos da perna de pau, do olho de vidro e da cara de mau -, o
que será de uma antipatia imensa – e você, Lula, é simpático demais. Muito
melhor que voltar é votar: o voto é secreto; você pode dizer que vai votar em
uma pessoa e votar em outra, como pode declarar que votou em quem confia, mas
que nunca foi da sua confiança.
Com a admiração de um idiota que tenta
mais respeitar que desrespeitar, com o respeito de quem admira quem é capaz de
rasgar a própria biografia e colá-la quantas vezes quiser com fita durex:
Vota, Lula. Vota.
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