Rosa organizou um seminário para
alunos da Odontologia da UFSC. Fui convidado para ser o primeiro palestrante. Dei
o título à minha palestra de “Mercado de Trabalho - Anseios, Expectativas e
Realidade”. Especialistas em Marketing e Psicologia, entre outras áreas, farão outras
palestras hoje e amanhã. A proposta do seminário partiu da Rosa; surgiu de um
pedido de ajuda de uma aluna, que comentou que havia alunos receosos do que vão
encontrar pela frente em suas carreiras, incluindo casos de depressão. O
auditório deve ter uns 80 lugares e estava lotado, principalmente por jovens
estudantes, além de alguns outros professores mais ou menos da minha geração. Juntei
na minha memória tudo o que consegui sobre as mudanças no Brasil e no mundo
desde o tempo dos Beatles até hoje e os impactos disso nas vidas, profissões e
mercados de trabalho; perguntei a eles se o país e o mundo haviam melhorado,
piorado ou permanecido a mesma coisa, até tratar do tema propriamente dito,
fazendo idas e vindas, provocações, sugestões e constatações – por exemplo, a
de que o país hoje vive uma democracia e tem uma moeda com nome e valor
conhecidos; que a odontologia, especialmente no Brasil, teve progressos
extraordinários; que o mundo é mais perto do que já foi e o interior do Brasil permanece
pedindo para ser desbravado e desenvolvido; do surgimento nos anos setenta e
oitenta do século passado do conceito do desenvolvimento sustentável e da
sustentabilidade, que considero um marco na história, por trazer a constatação
de que, sim, somos bichos que pensamos em desenvolvimento econômico, mas que
podemos fazê-lo sem culpa, desde que pensando também nas futuras gerações,
tratando os outros com respeito, pensando nos benefícios da inclusão social e
na necessidade de conservar os recursos naturais. Mencionei o óbvio: as
escolhas são sempre difíceis, mas são escolhas, próprias; e que cada pessoa é
uma entre sete bilhões de uma espécie entre outras sete bilhões de espécies - e
que cada um de nós é único, não há ninguém igual a ninguém; não há réplicas nem
das nossas impressões digitais nem das que temos do mundo e do universo. Também
falei da dificuldade do que parece fácil e não é: o autoconhecimento, lembrando
a célebre frase inscrita em uma pirâmide egípcia: Conhece-te a ti mesmo. Comentei
que não conhecia o Egito e que, infelizmente, neste momento, não tenho muita
vontade de fazer turismo por lá.
Terminada a palestra, uma moça
linda, muito loura e de olhos muito azuis, veio a mim e me perguntou se de fato
eu tinha dito que não tinha vontade de fazer turismo no Egito. Eu disse que
sim, por medo da guerra. “Pois eu passei dois meses lá e a realidade é outra,
diferente do que a mídia mostra, eles são um povo extraordinário, eu deixava
minha bolsa largada em qualquer e canto e ninguém mexia, e se as pessoas
continuarem a ter esse preconceito, a situação deles só vai piorar, eles
precisam de turistas para que possam sair da crise em que estão.” Eu pedi
desculpas e agradeci a ela ter-me dito isso, e que ela deveria dizer isso à plateia,
logo antes da próxima palestra. Ela me disse que tinha vergonha; eu propus que
a Rosa dissesse, então, incluindo meu agradecimento por ela me ter aberto os
olhos e destruído mais um medo e um preconceito dentro de mim. “O senhor falou na
possibilidade de se ir para o interior se essa for nossa escolha, e eu quero ir
para a Índia, e as pessoas me perguntam por que, e eu digo que lá eu vou ter
mais chances de ajudar as pessoas do que se eu for para os Estados Unidos.”
E aí ela chorou. Seus lindos olhos
azuis se encheram de lágrimas. Eu dei uma beijo em sua testa e disse, Daqui a
pouco, serão dois chorando. É o que faço, agora.
Obrigado, Professor Ricardo,
Professora Joeci, Rosa, minha mulher. Muito especialmente, obrigado a você,
linda lourinha chamada Mariane, seus lindos olhos azuis cheios de vida, ideal e
lágrimas que, sem querer e tão tolamente, causei.
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