À exceção de quem quer ficar em cima de um trono, carregado
e adorado por uma multidão faminta, diminuir as desigualdades sociais é um
desejo coletivo. É bom para o capitalismo como igualmente bom para o socialismo
e também para o comunismo. Mais mercados para o capitalismo, mais serviços para
o socialismo e mais trabalho para a ditadura do proletariado; menores discursos
e raras interrupções da nossa programação normal. Desde que estejam na pauta, e
que a pauta seja de muitos e para muitos, mais segurança, mais educação, mais
saúde. Maior a sensação de plenitude tanto para religiosos quanto para céticos;
e raros, curtos sermões (talvez, quem dera, sem decapitações).
Condição necessária para a distribuição de renda é a
própria: a renda. Não há como se distribuir o que não há. Mas não suficiente:
basta lembrar de quem deseja ser adorado em cima do trono. O capitalismo é capaz
de distribuir renda, como o socialismo de estimular mercados. Para os dois, a
condição que falta à suficiência da primeira – a renda - é a mesma: descer do
trono. Já para o comunismo, é possível distribuir tudo o que existir enquanto
existir.
Voltando à nossa programação normal, pensemos no que tem
acontecido na história recente do Brasil. DE FHC a Dilma, viramos da
centro-direita para a centro-esquerda. Mais liberalismo econômico no período de
FHC até meados do segundo de Lula e, de lá para cá, mais centralização,
intervenção e interferência. Maior arroxo quando era preciso atrair
investimentos e destronar a inflação; mais recursos quando estes eram mais
fartos, mantidos os fundamentos do crescimento sustentado e, com isso, crescimento
e inflação com fome e sem trono. Quando este – o trono - retornou à cena...
Será o tesouro nacional infinito? Será propriedade de alguém,
que não da população nacional? Será que não estamos perdendo tempo com umbigos alheios
e rivalidades alheias? Afinal, o que de fato nos interessa? Melhor distribuição
de algo que exista ou desvio de algo que é finito? Melhor investimento do que é
finito para que se multiplique e possa ser mais bem distribuído, ou desrespeito
ao capital que produz e multiplica? Melhor gestão do que há de mais parecido
com o socialismo – o social -, ou a pauta de uma só para cada vez menos – menos
escolas, menos segurança, menos hospitais, menos qualificação?
É indispensável sonhar, acreditar e exigir, mas é preciso,
lamentavelmente preciso ser adulto.
Não estamos discutindo esquerda ou direita. Estamos discutindo
centro-razoável-competência contra centro-indecente-irresponsabilidade.
Entre a porca corrupção pontual e a grotesca corrupção
sistêmica, sim, queremos as duas atrás das grades. Mas é preciso,
lamentavelmente preciso distinguir uma da outra.
É preciso, lamentavelmente preciso ser adulto. E decidir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário