Vinicius em DVD, coisa que jamais passou pela cabeça dele, Vinicius de Moraes. Vinicius na telona do cinema, isso ele tinha todo direito de imaginar: não só crítico da arte ele foi, como viu seu Orfeu da Conceição, o Orfeu Negro, passar do palco para Cannes, e talvez nem fosse isso o que ele quisesse ou disso fizesse questão. Vinicius agora fica à disposição na prateleira, mais que em sons e imagens, em depoimentos extraordinários, como os de suas filhas, muito especialmente da mais velha, porque a que podia contar e contou mais histórias dele e o bem e o estrago que causavam, nele e em quem estivesse por perto, e por motivo que ele conheceu mais que nenhum outro: ao invés de escassez, excesso de amor. Como os de Chico, Tônia Carreiro, Edu Lobo, Caetano Veloso e Toquinho. Tom Jobim, claro, está lá. Maria Betânia. E estão lá interpretações magistrais por cantores e cantoras magistrais de canções de Vinicius & Vinicius, Vinicius & Tom, & Baden, & Toquinho, & Chico &... Os assassinos de Emmet em ritmo que ele provavelmente também não imaginaria (nem mesmo ele). Camila Morgado e Ricardo Blat a fazer teatro, teatro de verdade, sentido, profundo, interpretado, palavra, silêncio, gesto, respiração, idade, tempo. Antônio Cândido, que presença no filme de Miguel Faria Jr. E que filme, o de Miguel Faria Jr., que extraordinária peça para se ver e rever na telona, para se ter na prateleira e repetir sua imagem em 14 ou quantas forem as polegadas domésticas, a cantar, a pedir a beleza de amar.
Minha filha, quando for sua vez de ensinar alguém a ler, que seja Monteiro Lobato sua cartilha; quando for sua vez de desejar, Jorge Amado é caminho dengoso e perigoso, como deve e cabe ser; mas se for amar, amar a vida, aos homens e mulheres que são de amar em paz, é Vinicius, a abrir as portas de todos os que conheceu em vida e pensamento e cita generosa e fraternalmente em seus livros: Drummond, Bandeira, Cecília Meireles, João Cabral, Murilo Mendes, Oswald e Mario de Andrade, Rubem Braga, tantos outros, além de outros ainda de outras patriazinhas, como Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Rilke...
Humano, demasiadamente humano? Vinicius.
E todas as vezes que surgirem esses doutores em coisa nenhuma a determinar qual o melhor poeta brasileiro, ouça, minha filha, ouça uma voz tanto humilde quanto sacana, que sempre responde de dentro dos verdadeiros puros:
- Quem é o melhor poeta eu não sei, mas, o melhor Vinicius, é o de Moraes.
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