Difícil encontrar expressão mais batida que esta: o avanço extraordinário da tecnologia. De tão batida, o avanço tecnológico já deixou de ser extraordinário faz tempo. Ainda que você se surpreenda com o fato de seu celular ser mais máquina fotográfica que telefone - ele gosta muito de dizer a você que a rede está ocupada ou, mais ainda, de deixar você com cara de tacho, falando com o éter, por um bom tempo, enquanto você pensava que sua amiga ainda lhe ouvia - ou desculpe, foi engano? -; mesmo que seja incrível o limpador de pára-brisa do carro de seu amigo funcionar com uma simples gota d'água - e pior: sem fazer aquele barulho que o do seu carro faz, rac-rac, bru-bru -; tudo bem que a máquina de lavar roupa da sua tia toque rock-and-roll dos anos cinqüenta, enquanto lava - e passa -, o fato é que tudo vai virando banalidade, a ponto de seu tio nunca mais ter dito "Não há mais nada que inventar", ou perguntar ao éter "Onde é que esse mundo vai parar?".
Procure aí na Internet por artigos de Engenharia, Medicina ou Culinária: 99,3,1416 começam pela expressão-título dessa crônica on-line, underground e muito mais out que in.
Pessoa de bom gosto que é, você vai mesmo é no antiquário, procurar por um abajur igual àquele que havia na casa da vovó, - ou a papeleira - escrivaninha com uma tampa que desaparece lá pra dentro, não há tecnologia capaz de explicar aquilo - parecida com a que você viu quando era criança, no sótão da casa da bisavó daquela garotinha que morava numa casa e não em apartamento; vai visitar cidade histórica, tropeça nas pedras de Parati. Acha o Fusca - aquele, com sobrancelhas nos faróis - um barato (sim, você usa essa expressão ultrapassada: um barato!), e se espanta: "Que carro é esse?" - "Um Puma" - lhe responde o primo, bem mais velho que você.
Pera aí, que agora chegou um e-mail pelo celular, exatamente quando você fotografava aquela coisa que acabou por achar horrorosa, aquele Puma cor de mamão, e sua mãe quer saber onde você anda que não aparece há três semanas, e começou a chover e você não trouxe um guarda-chuva. Pois não é que, desde a Idade da Pedra, chuva é muito boa pra lavoura, mas, pra gente, é uma incomodação danada?
Agora, o avanço tecnológico é impressionante.
Um comentário:
Caro Mário,
tua crônica me fez lembrar de um escrito da adolescência que encontrei perdido numa destas arrumações da vida, pois sou completamente desorganizado para estas coisas. Em síntese, o texto do guri de 14 anos ironizava a chamada "era das comunicações" de então, pondo seu personagem a tentar puxar conversa com um desconhecido que ia passando os olhos de um jornal para uma revista, depois para a TV, daí para o orelhão [!],e, sem notá-lo, não dava atenção alguma ao frustrado personagem que conclui que viviam eles, mesmo, na era das comunicações, mas ficava cada vez mais difícil iniciar um bate-papo num bar.
Assim fiquei eu a pensar, se na era da informação, não estamos cada vez mais alienados do que realmente importa, embora cheios de dados e fatos entrando "pelos sete buracos" das nossas cabeças...mas que "o avanço tecnológico é impressionante", ah, isso é! Um abração e felicíssimo 2.006.
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