(SEM DESFAZER DE FERNANDO SABINO OU VINICIUS, DE SUAS TESES E CONFIÇÕES DA LUTA DO EXERCÍCIO DA CRÔNICA)
Sua dificuldade pode estar no formato do caderno, na combinação da sua postura com o ângulo que sua caneta faz e projeta na folha pautada, com a margem à margem, vermelha, delimitando as regiões do seu texto e sua vizinhança hostil, de espirais e perfis desconexos, alienados e descontentes com sua escrita - a história que você vai registrando pauta a pauta, à direita da margem vermelha. Virando a página, a direita vira esquerda e a esquerda volta a ser direita.
A letra da união – ê, é, e – varia na pronúncia e no desenho. Є, Е, Σ. Escolha o seu “e”, seu mais, sua letra de união, mas escolha: indecisão é perda de tempo.
Seu teclado deveria ter o CAPS LOCK mais distante do A, o Alt Gr longe da barra de espaço; ou suas mãos poderiam ter não mais que cinco dedos cada uma. Lembre-se das máquinas de escrever ou, se você não chegou a conviver com elas, conviva – e verá que apagar, nas Olympia alemãs, era mais difícil. Principalmente da memória, que só começou a existir depois delas.
Apóie seus braços nos braços da cadeira, porque, senão, cada adeus lhe causará inflamação no epicôndilo. Traduzindo: dor de cotovelo.
As costas, as tenha protegidas, quer por montanhas, quer por duzentas milhas náuticas e oceânicas. Mas livres, sempre. Apoiadas, sempre. E amigas.
A testa, melhor mantê-la ligeiramente franzida, desde que sobre uma perspectiva de sorriso ou indignação.
Usando nem caneta nem teclado, bom e velho e apontado lápis ou namorada lapiseira zero-cinco ou zero-sete, perceba ser a grafite a mais que capaz de reproduzir as impurezas do branco que Drummond transformou em puras palavras. A área cinzenta tanto poderá ser cérebro quanto indefinição – e guerra. Assim, não se curve demais sobre as sombras, tampouco debaixo delas.
Escrever nem é inspiração nem transpiração.
Escrever é postura.
O resto é instrumento.
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