7.21.2010

MELHOR IDADE

Do alto deste edifício, 54 anos vos contemplam. Os meus. Pela legislação, seis me separam do estatuto do idoso e uns 112 da aposentadoria. Ainda não atingi a melhor idade, não sei se vou chegar lá e já me antecipo: melhor porque? Não questiono se de fato a chamada terceira idade é ou não a melhor, mas a forma como a retratam. A La Paralamas do Sucesso, pare e repare. Não faz muito tempo, um anúncio de seguros mostrava senhoras e senhores idosos: eles lutando espadas de madeira e elas jogando amarelinha. O anúncio saiu do ar e sorte do Gérson que desta vez não foi o locutor de uma mensagem tão ruim quanto injusta e infeliz. Claro que ninguém deve matar a criança que traz dentro de si pela vida inteira; é ela que nos mantém vivos, mas fazer idosos de idiotas não parece a melhor estratégia para vender seguros. Pare e repare mais. Vá a um aeroporto e escute a moça que trabalha na chamada de voos – que, pelo emprego que tem, conquistará estatuto e aposentadoria aos 25 anos – dizendo que pessoas da melhor idade terão preferência. No mesmo aeroporto, ao fazer o check-in você reparou: o símbolo do idoso é um corcunda de bengala. Melhor idade é isto: a mais clara demonstração de um certo talento para se desrespeitar a quem se finge conhecer. Talento que pode até existir mundo afora; mas que aqui se manifesta como um produto genuinamente nacional.

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