4.10.2006

AO TELEFONE, DE FRENTE PARA O MAR

A vida vira morte de um instante para o outro e isso não é nenhuma novidade. Mesmo naqueles casos de leito de doença prolongada que se sabe é a morte chegando; mesmo quando, no momento em que ela se aproxima, provoca sonhos com outros mortos e os membros e órgãos vão sendo aos poucos desligados do cérebro, quando realmente chega, a morte é abrupta. E assim foi para um casal – ele primeiro, ela depois.

Um outro casal, com dois filhos mais velhos que os três órfãos do que falecera, herdou-os para criar. Isso faz alguns anos.

Pois ele - o que se tornou, abruptamente, pai não de dois, mas de cinco - me ligou. Fiquei preocupado, futilmente, pois ele torce para o Botafogo, como eu, e – a experiência demonstra - botafoguenses não devem se falar em dia de decisão.

Nem sempre a experiência vence e, mais tarde, quem venceu foi o Botafogo; sagrou-se campeão, contra um time de subúrbio, o Madureira – mesmo bairro da Portela, cujos ensaios eram na quadra do Botafogo. Devo me dar conta que o assunto não era - e não é - futebol. Mas podia ser samba; da Portela, inclusive. E dos mais alegres.

Eu estava na praia. Era Domingo, um dia lindo, o mar atlântico estourava na beira da praia como quem quer comemorar, sua temperatura, densidade e docilidade, nem o útero materno conseguiria fazer melhor. Pergunto ao meu amigo ao telefone, Como vão as crianças, que já não são mais crianças? O mais velho, diz ele, na Alemanha, fazendo doutorado de Engenharia; a segunda, em casa, estudando Medicina com o namorado; o terceiro, faz Educação Física; a quarta, também cursa universidade; o caçula, bem, o caçula passou para Comunicação e Educação Física e ainda está indeciso, mas sem pressa.

Não sei que reação essa história provocará em quem a ler, neste já persistente blog. Da minha parte, que a ouvi no original, confesso que fiquei rindo sozinho.

Obrigado, Leda, valeu, Zé. Vocês me fazem concluir que, perto da vida, a morte não passa de uma idiota. Abrupta e idiota.

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