9.27.2005

A PROIBIÇÃO DA VENDA DE ARMAS; UMA DISCUSSÃO EM TEMPO REAL

A discussão tem sua razão. Andam se matando por aí a troco de troco. Depois, ao entrar numa loja e pedir uma Parabelum, ninguém lhe perguntará se é com açúcar ou adoçante.

Você já passou pelo teste e afirmou: armas usadas pelos bandidos não são compradas na loja. Além disso, você já se viu no espelho a dizer que tem todo o direito de se defender e portanto portar uma arma. E mais. Você já repassou aos amigos a mensagem da Internet que alerta: - Atenção, você não terá arma em casa e seu vizinho também não e o bandido terá certeza disso e você estará indefeso e não poderá pedir socorro a ninguém, somente à polícia, que está mal armada e impotente. (Ou mal amada e impotente.)

Você não se conhece o suficiente e não comprará uma arma porque tem medo de ficar triste e resolver acabar com a tristeza com um tiro na própria testa ou na de quem você mais ama. Teme também que limpar a arma lhe dê uma mortal dor de cabeça. Você também conhece seu filho e sua filha e sabe muito bem que eles poderão brincar de bang-bang ou traficante-mirim e bang-bang, pronto, um dos dois foi ao chão com uma bala no coração ou na mão que chateação ter que ir ao hospital na hora do Fantástico.

Mas a proibição leva à contravenção - basta lembrar da Lei Seca, nos Estados Unidos de Al Capone; por outro lado, deixar como está poderá manter tudo como está ou incentivar a quem jamais pensou em comprar uma arma, a adquirir uma ou duas.

A quem interessar possa, vou continuar não tendo nem comprando armas e votarei pela proibição da sua venda, porque: (i) acho perigoso demais ter-se dentro de casa o risco da facilidade mortífera que uma arma de fogo proporciona; (ii) trancá-la a sete chaves é o mesmo que não possuí-la; (iii) o bandido sempre terá mais motivos e destreza que a vítima em usá-la, especialmente quando se sentir por ela ameaçado; (iv) gritar “socorro” aos vizinhos quando se está ameaçado por alguém armado, nos dias e no Brasil de hoje, me parece mais provável como auto-sentença de morte que real perspectiva de socorro; (v) sou otimista: caso vença a proibição, os fabricantes de armas as continuarão fabricando – só que exclusivamente para as forças armadas, e estas serão mais cobradas por uma sociedade desarmada; (vi) o argumento de que o referendo à proibição do comércio seja manobra para um golpe de estado, primeiramente desarmando a população e depois via associação com o tráfico, é esquecer que a história mostra que nenhum golpe de estado surgiu e prevaleceu sem amparo de significativa parcela da população, no mínimo em poder relativo na sociedade – e, por pior que esteja o crédito dos políticos, há claras demonstrações de que o que a maioria quer é aperfeiçoar a democracia e não jogá-la fora, além de não haver nenhum real poder ameaçado a ponto de se arriscar em aventura desse tipo. E, otimista que sou, ainda que o tráfico possa ter representantes dis-farc-çados no Congresso, não consigo imaginar nem esquerda nem direita brasileira, com efetiva representatividade, sócia do tráfico para alçar o poder à força.

Assim, com todo respeito a quem pensar diferente e sem nenhuma pretensão idiota de defender uma bandeira, se me perguntassem Vai um diet Colt aí?, minha resposta seria Não, obrigado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mario,
Concordemos com a sua posição ou não, é sempre bom discutir. Se esse referendo de nada adiantar para a questão das armas, pelo menos nos restará o exercício da democracia.
Um abraço,
Pasquali